Existe um conceito comum no Brasil que arte não vende, e que a idéia
de ser artista caminha em direção contraria a de ser profissional e
viver de nosso trabalho. Em algum ponto em nossas carreiras desistimos
de nossos projetos e focamos na sobrevivência, nos tornamos “
solucionadores”
de problemas e realizadores da idéia alheia. Interpretamos a criação
de outros e transformamos aquelas idéias em imagens e obviamente nem
sempre aquilo que produzimos assim se torna o que realmente queríamos
fazer ou da forma que gostaríamos que fosse feito.
Nem tudo pode ser como queremos
Uma das primeiras coisas que a vida nos ensina é que nem tudo pode
ser como gostaríamos que fosse e um dos sentimentos mais comuns em nossa
sociedade moderna é a frustração. Aprendemos a escondê-la em algum
armário bem no fundo de nosso inconsciente, transformando-a em
amarguras, raiva ou uma eterna sensação de descontentamento pelo simples
fato de aceitarmos que não podemos ter tudo que queremos e nem sermos o
que esperamos ser.
Mas do que realmente abrimos mão? Se é fato que não podemos ter ou
ser o que esperamos, do que realmente abrimos mão afinal? Lógico que nem
tudo acontece de acordo com nossas expectativas, a vida tem formas
muito peculiares de nos mostrar que não estamos exatamente no comando
dela e talvez façamos parte de um grande tabuleiro de xadrez onde cada
um de nós tem uma função pré-estabelecida e por isto a primeira coisa
que deixamos de lado é a nossa essência artística e criadora.
Nivelando por baixo
Quando acreditamos que para “sobreviver” neste mercado devemos
abdicar de nosso lado criador e artístico para nos tornarmos
realizadores de
layouts ou simplesmente aquele que capta o momento, estamos nos nivelando por baixo.
Uma coisa curiosa sobre o “dom artístico” é que mesmo quando o
abandonamos, ele não nos abandona; fica enfraquecido mas não nos deixa.
Infelizmente todos podem fotografar mas nem todos tem este dom. Aqueles
que o tem, as vezes fazem de tudo para se nivelarem àqueles que não
tem, justificando assim uma possibilidade de sobrevivência natural neste
mercado selvagem, mesmo que isto nos transforme em uma espécie de zumbi
artístico que fica vagando neste limbo do que você gosta e acredita em
troca do que os outros esperam de você.
Nossas escolhas
Culpar a dureza do mercado em si não vai resolver sua situação,
porque na verdade nós mesmos fazemos nossas escolhas. As vezes baseamos
estas escolhas no desejo consumista de nosso mundo moderno, são tantos
produtos legais, tantas câmeras novas
, Iphones, Ipads e muitos
outros brinquedos que não custam barato mas que por algum motivo
desejamos ter muito mais do que desejamos desenvolver nosso lado
artístico e criativo e por isto na hora que colocamos tudo na balança
acabamos fazendo a escolha de que é bem mais fácil ter algo do que criar
algo.
Escolhemos acreditar que arte não dá dinheiro, que ser artista é
abdicar de ter algo concreto e seguro. Este mito vem da época da
ditadura, obviamente para um regime militar a idéia de ser artista era
contraria ao que eles pregavam e o medo de que a arte poderia abrir os
olhos de um povo oprimido era tão grande que devia ser combatido como um
dos principais inimigos daquele regime e uma de suas principais
ferramentas era desacreditar e associar os artistas a um grupo sem nada,
a um grupo de descamisados baderneiros que não se encaixam em uma
sociedade normal e funcional. Quantos de nós não escutamos este termo
arte não dá dinheiro e acabamos acreditando nisto.
Outro motivo que enfrentamos é a cobrança familiar de que devemos ter
um emprego fixo e sem surpresas que correr riscos é algo perigoso e por
isto devemos escolher um caminho já traçado e seguro. Na verdade as
cobranças são muitas, o modelo de felicidade imposto a todos nós de que
devemos crescer, aprender uma profissão, casar, ter filhos, e sermos
membros de um sociedade homogénea e massificada.
Ainda bem que muitos daqueles que nos inspiram são justamente os que
desafiam e quebram as regras do que realmente se pode fazer. O
impossível se torna possível e somente o indivíduo pode limitar as suas
possibilidades de realização, sempre foi e sempre será uma escolha sua.
Mudando nossos paradigmas
A boa noticia é que se somos culpados por nossas escolhas somos
também responsáveis pelas soluções. Sabemos que para trabalhar este
nosso lado artístico e criativo temos que ter certeza o que isto
significa para um fotógrafo profissional e como isto pode ajudar em
nossas carreiras.
Como disse antes por mais que abandonemos nosso lado criativo ele não
nos abandona, mas apenas se enfraquece e assim como um músculo, deve
ser exercitado. Este seu lado criativo deve transformar-se em sua
visão. Esta sua visão particular deve ser o seu principal diferencial
comercial e será esta sua visão que vai ajudá-lo a se destacar e deixar
de ser um simples apertador de botão para se tornar um fotógrafo
profissional e criativo em sua essência plena.
Esta não é a primeira e nem será a última vez que falo sobre
desenvolver uma visão e da importância disto em nossas carreiras. Para
complementar sugiro também que leiam o livro A Essência.
Não é fácil
Para desenvolvermos um projeto artístico e criativo temos que ter um
certo conhecimento para que assim possamos nos expressar da melhor forma
possível e causar o impacto que desejamos. Existe uma curva de
aprendizado criativo que deve ser cultivada mas isto não é uma tarefa
fácil e nem imediata, por que ao mesmo tempo que devemos sobreviver e
pagar as contas do dia a dia gostaríamos de desenvolver nossos projetos
pessoais. Mas para isto ser possível temos que ter uma dedicação e
comprometimento muito grande. Fazer um planejamento econômico e
cronológico com objetivos bem definidos, assim como você não deve abrir
mão de seus sonhos também não deve abrir mão da realidade e deve buscar
um equilíbrio entre os dois. Definir metas artísticas e planejar uma
estratégia de ação é o melhor que se pode fazer para que possamos
realizar aqueles projetos que queremos. Não é fácil, mas também não é
impossível, basta ter uma boa idéia, muito comprometimento e dedicação.
A Recompensa
Quando realizamos um projeto autoral recebemos uma recompensa um
pouco maior que o reconhecimento ou elogios apenas; algumas vezes um
projeto bem realizado e bem divulgado só tem a trazer benefícios para
qualquer profissional e estou falando também de benefícios comerciais e
financeiros.
Divulgar um projeto artístico e criativo hoje tornou-se bem mais
fácil do que era a 15 anos atrás, um projeto bem realizado pode ganhar
em questão de dias uma notoriedade muito grande devido às redes sociais. O
Viral se tornou um termo muito comum e diversos fotógrafos estão
aproveitando destas ferramentas para realizarem os seus projetos e em
contrapartida terem um retorno positivo.
Idéias simples que funcionam de forma fantástica atraindo novos
olhares e dando ao fotógrafo uma grande oportunidade de ser conhecido
pelo que gosta e eventualmente ser contratado pelo mesmo motivo, por sua
visão e capacidade criativa.
Alguns exemplos disto:
- Outro Trabalho extremamente conceitual e com uma beleza que nos remete a mestres como Man Ray é do fotógrafo Pablo Delfos.
Algo que devemos notar em seu trabalho é a consistência de sua visão,
fato muito importante na criação de projetos criativos. Deve existir
uma constância entre sua idéia e visão. Pablo também possui um trabalho
direcionado a moda e retratos e a relação de seu trabalho conceitual e o
profissional é clara em seu portfólio. - http://www.pablodelfos.com/ Site principal - http://www.cakexmanjaotten.com/pablo-delfos/ Portfolio comercial
- O Fotógrafo Mustafah Abdulaziz tem um trabalho direcionado ao fotojornalismo e atende clientes como The New York Times, The Wall Street Journal, CNN, National Geographic
entre outros. Outro bom exemplo de como uma visão bem definida pode
ser a sua principal força de venda. Seus trabalhos pessoais acabam
misturam se com o seus trabalhos profissionais e se torna claro em seu
portfólio o que ele tem a oferecer ao mercado como profissional e
artista.- http://www.mustafahabdulaziz.com/
Alguns fotógrafos mais focados em publicidade apostam em trabalhos
com um pouco mais de humor ou retratam alguns temas comuns de nosso dia a
dia.
- Um projeto curioso e que mostra como uma mudança de perspectiva pode gerar um resultado interessante é Underwater Dogs http://www.littlefriendsphoto.com/index2.php#!/home de Seth Casteel,
fotógrafo especializado em Life Style e fotografia de pets, acho que
nem Steh imaginou a fama que suas fotos ganhariam, suas divertidas e
curiosas imagens tomaram conta de toda mídia e internet e tornou-se um
sucesso mundial, sua Pagina no Facebook teve mais de 120mil likes e
continua crescendo.
- No mesmo tema de Pets uma cadelinha ganha o mundo com suas fotos divertidas e inusitadas Maddie the Coonhound um adorável trabalho do fotógrafo Theron Humphrey com
sua paciente cadelinha Maddie, como diz no titulo do site, um projeto
super serio sobre cães e física. – http://maddieonthings.com/
Todos estes projetos mostram que a criatividade artística não tem
limites quando bem produzida, e se tornam um grande impulso na carreira
de muitos profissionais.
A fórmula
Na verdade não existe uma fórmula que seja garantia de sucesso, não
vou mentir para você que as vezes temos uma idéia genial e fazemos tudo
que podemos mas o resultado não vem e isto gera medo e desapontamento,
afinal estamos em um campo desconhecido, mas por isto que não devemos
nunca desistir e posso garantir com 100% de certeza que abandonar a sua
essência criativa não vai ajudar em absolutamente nada e irá colocar
você naquele mar sem fim de fotógrafos sem criatividade que copiam tudo
que vêem e passam a vida reclamando de outros fotógrafos. A escolha é
sua e somente a dedicação e comprometimento com você mesmo vai levar
você a não só ter o que busca mas com certeza a ser o que você quer.
Boas Fotos e bons negócios.
Luciano Mello